domingo, 7 de dezembro de 2014

"Palavrices"

Por estranho que possa parecer, só comecei a recorrer com frequência ao uso do palavrão quando fui para a Covilhã. Não fui criada numa redoma, a minha mãe até me deu o dicionário do calão. Em casa não se diziam, a minha mãe não queria que os disséssemos. Queria que soubéssemos que existiam. E ouvi muita coisa pelas escolas onde passei. Era muita criatividade a fervilhar. Lembro-me de um miúdo me perguntar se eu não dizia palavrões, safei-me com um "digo, claro. Tu é que não estás atento".

Nascida e criada no Porto, mas com pronúncia pouco carregada - v e b, por uma razão óbvia, nunca representaram qualquer desafio - apenas algumas vogais que não consigo fechar (e nem me esforço para o fazer), o ditongo "ou" e palavras terminadas em "am" denunciam-me. E muitas expressões (à minha beira, por exemplo) e nomenclaturas (granizo, magnórios, aloquete, estrugido, testo, etc.), claro. Não digo mánhe, nem paie, romá, maçá ou irmá. O "ão" não é para mim pon, mon ou son - quando o ouço assim, lembro-me sempre dos pronomes possessivos do francês e repito-os mentalmente: mon, ton, son, ma, ta, sa, mes, tes, ses, notre, votre, leur. 

Quando cheguei à Covilhã, a minha pronúncia era batida aos pontos pelos residentes no raio de 50 quilómetros de distância do Porto. Não podia admitir que a minha origem não fosse imediatamente detectada. Precisei de usar os palavrões. Sempre disse foda-se e não o característico fuoda-se. Hoje em dia, graças a Deus, ainda os uso, mas só com as minhas pessoas. O meu caralho não é para qualquer um.

Agora, algo completamente diferente, vou deixar um mantra para aqueles dias menos bons. Pode ser dito mentalmente ou num local isolado. Acreditem em mim, não sou nenhuma miúda. Entrei na UBI em 1997, façam as contas. Isto é melhor que arremessar objectos e mais barato que terapia:

Foda-se para o caralho que os foda, era quem os fodesse a todos até à perda total da consciência, só não os mando apanhar no cu porque podem gostar e o que eu quero mesmo é que se fodam todos ou o caralho que os foda a todos. Foda-se, fodei-vos e não me fodam a puta da cabeça.

Por muito tentador que seja, nunca o repitam com assistência ou dirigido a alguém em particular. Há formas mais elegantes de o dizer sem prejudicar em nada o significado.

4 comentários:

  1. Sinto-me lisonjeada por levar com os teus caralhos em doses maciças e quase diárias :)

    Esse mantra serve-me que nem uma luva, ultimamente. Vou guardar. Muito e muito obrigada :*

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    1. Mereces o privilégio, obrigada por isso :-)
      Este mantra é muito bom, digo-o por experiência própria!

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    1. É uma merda como as outras, não é nada de especial :-)

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