sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Oportunidades

Lembrei-me da viagem ao Egipto porque tenho besuntado o cabelo com um óleo artesanal que trouxe de lá. E como é gente com tradição na arte de bem conservar, comprei-o e não tenho medo de o usar.

A viagem foi feita por agência e o destino turístico foi Sharm el-Sheikh. Já sabíamos que o vôo não era directo. Tínhamos cinco horas de espera no Cairo e dois eram reincidentes nesta viagem - já lá voltaram depois da Primavera Árabe. Apesar de terem conhecimento de escapadas bem conseguidas, nunca arriscaram sair do aeroporto com medo de perder o vôo interno para Sharm el-Sheik. Fazê-lo dava um bocado de trabalho, a juntar ao desconhecimento da língua havia a dificuldade seleccionar o que se queria ver porque a janela temporal era pequena, procurar um taxista, discutir preços e tentar não ser muito enganado.



Ainda não tínhamos chegado a Lisboa - não há ou há poucos vôos a sair do Porto para este destino -, e já vinha a tentar convencê-los a passar as horas de espera no Cairo. Mas não estava a ser fácil. Fizemos o check-in aos pares e, penso que foi essa a razão, como não partilhava com eles o último nome, eles ficaram juntos e eu fiquei sozinha num lugar de três. Não verifiquei o número e sentei-me à janela para ver “as pirâmides durante a aterragem”. Um casal reivindicou o lugar, convencida que estava certa, dei luta. Não estava certa. Pedi desculpa várias vezes. Fizemos as pazes e, sendo eles egípcios, quiseram ceder-me a janela. Não aceitei, não tinha legitimidade para aceitar. A mulher era gorda, o homem era descomunal. Aconteceu o que nunca tinha visto. O homem pediu uma extensão para aumentar o cinto. A oração pré-levantar vôo também foi uma estreia (não fui a Marrocos par avion nem por agência).

Conversamos a viagem toda e "é a minha primeira vez no Egipto, ficamos umas horas no Cairo e depois seguimos para
Sharm el-Sheikh", surgiram as dicas da boa comida e a obrigatoriedade de ir a Naama Bay. "E não vais ver as pirâmides no Cairo?", disse-lhe que não, não tínhamos tempo. "Tens que ir, têm tempo. Eu ajudo-vos com o táxi! Tens que ver as pirâmides! Vocês saem por um lado e nós por outro, encontramo-nos no átrio do aeroporto."

Ir ao Cairo e não ver as pirâmides de perto, é como ir a Roma e não ver o Papa. E assim aconteceu, eu vi (e toquei) nas pirâmides de Gizé. Custou-me passar pelo Museu Egípcio e não entrar, ver coisas em andamento e não parar. Aproveitei o que pude, absorvi o trânsito caótico, as ruas a fervilhar de gente. Gravei a imagem da miúda de lenço na cabeça que abriu a janela do autocarro para vomitar como se nada fosse. Tirei uma fotografia rápida junto ao Nilo.  Prometi voltar.
 

Nos restantes dias, fui a Naama Bay várias vezes, em Sharm el-Sheikh fiz praia e nadei no mar vermelho. Não pude fazer baptismo de mergulho porque a água faz-me doer os ouvidos e não se pode mergulhar com tampões nos ouvidos. Fiz snorkeling, vi peixes incríveis e, não consigo estar sem fazer nada, rentabilizei o tempo em busca de pedaços de coral partidos e das moedas que os russos atiravam à noite para o mar.
 

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