Já não se pode confiar em nada, nem o estado do tempo é fiável. Não podendo queimar os últimos cartuchos na praia, uma ida aos restos dos saldos pareceu-me um boa opção.
Nas lojas só há monos e teria sido um fiasco se a ida aos saldos não fosse uma desculpa para pôr a conversa em dia com a minha vizinha. Continuo a chamar-lhe vizinha para a diferenciar das outras Paulas que conheço. Mas já não é minha vizinha há alguns anos, é a minha amiga que já foi vizinha, ou melhor, é vizinha dos meus pais.
Falamos sobre as pessoas mudarem e nem sempre para melhor. E que, por vezes, mais vale esquecê-las e fazer de conta que morreram porque, no fundo, elas, tal como as conhecemos, já não existem.
Esta conversa levou-me a pensar na nossa amizade. Fomos vizinhas durante 25 anos e somos amigas há 10. Incrível, não é? Mas não podia ser de outra maneira, os interesses que agora temos em comum, não existiam na infância. Ela preferia brincar à economia doméstica com pratinhos e tachinhos. Eu gostava de jogar à bola, subir árvores e muros. Andava sempre metida em escaramuças com os rapazes. Ganhei a alcunha de selvagem por causa disso e pela juba cujos caracóis a minha mãe teimava em pentear. O ponto alto desse tempo foi quando a mãe do D. foi queixar-se: a sua filha bateu no meu filho!
Chegou a adolescência, depois disso entrei na UBI e fui para a Covilhã. Agora somos amigas, usamos as duas vestidos. Ela tem as pernas impecáveis e as minhas estão cheias de medalhas de "bom comportamento".
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