sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Cicatriz

São duas acima do lábio. Uma maior que outra. Mas a que interessa é a mais pequena. É uma covinha, um furo. A história por trás dela tem muitos anos. Não sei qual era o motivo, sei que estava a massacrar o meu irmão, o meu irmão mais novo. Estava a arreliá-lo tanto que ele agarrou no que tinha à mão. Tinha uma faca. E atirou-a. Lembro-me da cara de pânico dele durante o voo da faca. Lembro-me de a ver debaixo do meu nariz. Lembro-me de a ver espetada em linha recta. Lembro-me que ficou segura por segundos e que caiu ruidosamente no chão. Lembro-me de desatarmos a chorar. Lembro-me da palmada dada a cada um pela minha mãe. E Lembro-me do meu irmão todos os dias.

Isto não é uma história triste, pelo contrário. É uma história engraçada como tantas outras. Éramos uns índios, um de nós acabava sempre lesionado - ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo. O drama durava pouco tempo e depois era gargalhar com os "lembras-te quando". Na teoria, tínhamos sempre boas ideias e descer a Rua João Grave com uma bicicleta sem travões teve tanto de libertador como de doloroso. Valeu a pena.

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