quarta-feira, 20 de maio de 2015

"Milagrário"

Ontem foi a “reunião” sobre o livro de José Eduardo Agualusa. É um livro fofinho. O ponto de partida é-me querido. Gosto de ler sobre a língua e a linguagem. A visão da língua portuguesa como uma “esponja” que vai absorvendo vocábulos sem preconceito. Conhecer outras realidades não é dividir, é aumentar. E esta é uma visão que partilho. No capítulo final do "Milagrário Pessoal", é revelada a razão e explicada a execução do plano, surge a expressão “foco de infecção”. Gosto dessa comparação do crescimento da língua à Saúde Pública, a língua modifica-se e cresce através do uso e da troca social. A língua, a linguagem, infecta-se todos os dias quando falamos uns com os outros. E isso não é necessariamente mau.

Claro que acabei de ler “O eleito" de Thomas Mann. Muito bom. Uma das frases que me ficou e que não faz parte da narrativa propriamente dita foi esta: “Sobre as línguas, ergue-se a linguagem”. E, como é óbvio, já comecei um à minha escolha antes de passar ao “obrigatório” - “Os Cachorros / Os Chefes” de Mario Vargas Llosa. A minha escolha “rebelde” é “Correios” de Charles Bukowski.

6 comentários:

  1. Como eu te invejo essa maravilhosa capacidade de arranjar tempo para saborear livros.. ensina-me.

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    1. Este ano assumi o compromisso de "arranjar tempo". Não é fácil, mas vou tentar não desistir :)

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  2. Prodigiosa língua que tudo permite -- até algo como isto (de Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa):
    "A gente suprisse de varar o Liso em boas farsas, se chegava lá sem ser esperados, arrastava aquele pessoal por dura surpresa ― acabou-se com aquilo! Mesmo quem havia de deduzir que o Liso do Sussuarão prestasse para nele caminho se impor? Ah, eles prosperavam em sua fazenda feito num quartel de bronze ― com que por outros cantos não se podia remeter, pois de arredor decerto tinham vigias, reforço de munição e récua de camaradas, pelos pontos de passagem dificultosa, que eles governavam, em cada grota e cada ipueira. Truco que, de repente, do lado mais impossível, a gente fosse surgir de sobrevento, soflagrar aqueles desprevenidos... Eu escutei, e perfiz até um arrepio. Mas Diadorim, de vez mais sério, temperou! ― Essa velha Ana Duzuza é que inferna e não se serve... Das perguntas que Medeiro Vaz fez, ela tirou por tino a tenção dele, e não devia de ter falado as pausas... Essa carece de morrer, para não ser leleira..."

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    1. Prodigiosa língua que nunca deixa de me surpreender. Extraordinário :)

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  3. perspetiva muito inteligente; uma infeção que, podendo vir a transformar-se numa pandemia, é extraordinariamente bem vinda!
    Bom fim de semana, Sister.

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