quinta-feira, 12 de março de 2015

Nem sempre, nem nunca

Fui almoçar fora. Fui a pé, fica a duas ou três passadeiras de distância. Ainda não me tinha aproximado de uma das passadeiras quando reparei que no meio da estrada estava um senhor já com uma certa idade e com duas muletas. Todos os carros que apareciam, paravam para o deixar passar. Mas o senhor mandava avançar insistentemente. E eles, esperavam uns segundos, acabavam por avançar. Até que chegou um que não avançou. O senhor lá desistiu, começou a atravessar muito lentamente e, ao mesmo tempo, dizia: já não basta chegar a este estado e ainda ser humilhado! Embora não o aceite totalmente, consigo perceber a atitude do senhor, deve ser fodido perder capacidades e estar consciente dessa perda. Ninguém gosta de ser visto como um coitadinho e de não ser visto para além dessa incapacidade. Mas a verdade é que também precisamos de algum mimo e cordialidade. Se eu fosse o condutor, também insistiria para ele passar. Não seria por desrespeito, seria por respeito, seria porque gostava que fizessem o mesmo ao meu pai ou a mim quando chegar a altura.

6 comentários:

  1. também concordo com esse ponto de vista. por uma questão de respeito, e não por ser "coitadinho". bom fim de semana.

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  2. Sabes que há uns tempos aconteceu-me isso? eu a acenar com a mãozinha "passe, passe", ele a acenar com a muleta "passe, passe". Eu já a sorrir, e freneticamente, mão no ar "passe senhor! faça favor", ele de muleta já bem alto "passe lá, passe lá". foi de tal ordem, que ia dando molho. às tantas, desistimos os dois ao mesmo tempo, e quando eu arranco, ele decide atravessar. Foi por um triz. Bom fim de semana

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    1. Eu até percebo um bocadinho que não se sintam bem. Mas reconhecer os nossos limites é uma atitude inteligente, não é?

      Boa semana :)

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  3. Penso muitas vezes nisso. Na velhice e no ficar incapacitado. Ainda sou jovem mas já sinto o corpo a dar "sinais" e temo que com a chegada da velhice e a perda do que nos torna mais saudáveis, os problemas se instalem nos músculos, nas pernas, nos ossos, impedindo a locomoção.

    Se agora que ando bem os condutores não têm paciência para esperar que uma pessoa atravesse a passadeira, já acelerando assim que o pezinho de trás passa para a frente, consigo compreender o senhor. É que todo o condutor é impaciente... quase que parece desejar que quem atravessa a passadeira o faça a correr. Mesmo quem o faz a passo apressado, como é o meu caso, consegue sentir aquele "apressar" do condutor.

    A VERDADE é que os condutores só demonstram PACIENCIA perante um "coitadinho". Por isso compreendo o senhor. Não existe esse tipo de respeito com pessoas que não demonstrem incapacidade. Só recebe um pouco de respeito quem anda de muletas, ou precisa de uma bengala de invisual, ou as grávidas, com crianças pequenas ou um carrinho de bebé (com criança dentro pq se for só com compras não surte efeito).

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    1. Já pensei nisso mas na versão de nos sentirmos culpados por sermos "normais", será?

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