Caro leitor, sim, para variar o género, é consigo que estou a falar.
Encontrou a sua alma gémea, o tão desejado testo (ou tampa) para a sua
panela. Mas já começa a ficar desconfiado. Há determinadas coincidências
que teimam em acontecer sempre que se reúnem determinadas condições.
Sente-se vítima de um qualquer plano maquiavélico, não é verdade? Pois. É
natural.
É difícil encontrar algo que fique tão bem junto como tempo livre e a
soneca no sofá. Mas depois do voo em queda livre para o sofá e ao
primeiro toque das suas nádegas nas maravilhosas almofadas, há uma voz
que se levanta – Queridooooooooooooooo, as compras já estão arrumadas? –
Verdade seja dita, ninguém o mandou ir bater com os costados no sofá
sem verificar se estava tudo feito. O facto é que não basta ajudar. Como
morador da mesma habitação, a sua obrigação é trabalhar em prol da
salubridade da mesma. O que me parece menos bem é a sua cara metade
esperar que se instale confortavelmente para mandar o recado.
O seu clube está a jogar ou está a dar na TV a sua série preferida e
lá vem a voz – Amooooooooooooooooooooooooooor, falta arrumar a louça da
máquina! – Caramba, a louça não foge e, por isso, é preciso que alguém a
leve para o armário. Mas a louça também não tem sentimentos, tanto lhe
faz ser arrumada agora como mais tarde. Parece de propósito, não?
Aproxima-se um dia importante a nível profissional e, para tudo
correr bem, precisa da sua camisa da sorte ou, simplesmente, gostava
mesmo de vestir aquela t-shirt. Adivinhe? Ainda não foi lavada ou falta
passar a ferro. Aqui está mais uma coincidência do caraças. E o que fez
para merecer isto? Provavelmente fez uma das seguintes opções ou, se
calhar, até as fez todas. Não costuma apanhar a roupa do estendal
quanto mais pôr a máquina a lavar. Programas a dois só em casa e de
pantufas. Sacudir a toalha é o mesmo que mandar para o chão as migalhas.
A melhor altura para fazer a barba é depois de a casa de banho ter sido
meticulosamente limpa.
Quanto à teoria da conspiração está convencido ou precisa de mais
provas? Bem me parecia, passemos à retaliação. Isto vai dar trabalho, o
não fazer nada não é solução. Mas estamos cá para o apoiar.
Se não fazer nada não resolve o assunto, fazer rápido e mal também
não. Apenas piora a situação e terá direito a sermão e missa cantada. O
plano a adoptar é o devagar, devagarinho mas bem. Qualquer tarefa é
para fazer demoradamente, acaricie a placa vitrocerâmica como se fosse
um peluche, manuseie e rodopie a esfregona lentamente e quase de forma
erótica, não tenha pressa. Durante a realização de qualquer tarefa,
chame a cara metade de cinco em cinco minutos para confirmar se o que
está a fazer está a ser correctamente feito – Bebé, está bem assim? É
assim que queres? - Não se esqueça de a tratar carinhosamente para a
vencer pelo cansaço, levá-la a dizer a frase – Deixa estar que faço eu –
e não provocar uma explosão. Mas se explodir, assuma o papel de vítima –
Eu só quero agradar e ver-te feliz. Isso é crime, amor?
Se seguir à risca as nossas orientações, em princípio, está safo. Se o
plano não resultar, tem a satisfação de ver a sua casa arrumada e num
brinquinho.
Este deu para muito trabalho de campo e pesquisa. Tinha que o trazer para aqui.
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