A evolução natural de um relacionamento não tem necessariamente que passar pela procriação. Aliás, a maior prova de inteligência está em ultrapassar esse desejo de prolongar a linha do ADN no tempo e no espaço, está em admitir racionalmente a incapacidade de ser pai antes de o ser.
A minha intenção não é ofender ninguém. Apenas penso que cada um deve
optar em consciência. Devemos ser felizes com as escolhas que fazemos e
ninguém tem o direito de nos apontar o dedo por isso. Ter filhos não
deve ser uma obrigação, mas sim um desejo. Afinal de contas não são eles
que pedem para nascer e quando se quer que eles nasçam, há que ter
disponibilidade para eles. Eles merecem-no, merecem ser amados e
preparados para o futuro. Não são um projecto que se pode abandonar se
correr mal. Não é um serviço que outros possam terminar se não formos
capazes de o levar até ao fim.
Mas o problema nem está em perguntar pelos filhos a quem não os tem
por opção que, com melhores ou piores argumentos, já têm a resposta
pronta e estudada. No entanto, fazer essa pergunta a alguém que ano após
ano, tratamento após tratamento continua com a esperança de os ter, é
simplesmente uma crueldade de todo o tamanho. Quem pergunta não sabe,
mas também não tem de saber. Isso só diz respeito a duas pessoas.
Bastava não perguntar.
Ter filhos, infelizmente, não nos faz melhores pessoas e o que não
falta são exemplos disso. Não devemos recriminar ninguém por não os
querer ter como também não devemos ter pena de quem os tem. Cada um é
para o que nasce, às vezes quer-se mudar e a natureza não é colaborante.
E agora, the last but not the least, uma nota bem pessoal:
os cães não são substitutos dos filhos, como os filhos não são
substitutos dos cães. Parem de fazer analogias e acusações. Tratem de
acompanhar os vossos filhos em vez de dar palpites sobre a fertilidade
dos outros.
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