Considero-me uma pessoa calma e tolerante. Pronto, não sou calma. Aprendi a não me enervar com coisas sem importância, é mais isso. Mas ontem foi impossível segurar-me. Criticar o trabalho de uma equipa só porque podem, tira-me do sério. Principalmente por ser alguém que não faria igual e melhor é que nunca faria mesmo. Argumentou e contra-argumentei. A minha colega ia dando sinais e deixas para terminar a conversa. O argumento final dava-me razão, mas ainda assim não deu o braço a torcer.
- Devias tê-la deixado falar, já sabes que ela é assim. Tem que arranjar sempre problemas!
- Foda-se, ela estava a desvalorizar-nos e não sabe nada sobre o assunto! Somos sempre os últimos a sair, paus para toda a colher, fazemos omeletes sem ovos... Nós não nos vamos meter no trabalho dela! Quanto mais te baixas, mais te vêem o cu: não podia calar-me!
Esta minha colega é sempre uma incógnita: ora ferve em pouca água, ora é o fucking Dalai Lama. Nesta situação, escolheu a segunda hipótese. Dizer sim a tudo porque, e ditou a sentença científica: é falta de peso! - não dizemos mal fodida, dizemos falta de peso e dá p'rá menina e p'ró menino. Esta expressão assenta na premissa que o ser mal fodido não causa tanto mau feitio como o não ser fodido de todo.
Rio-me sempre desta razão quando não há mais nenhuma razão que justifique o mau humor e arrogância crónicos. Não lhe reconheço validade, mas a verdade é que tive uma professora que era intragável. Só faltava bater-nos porque de burros, ainda que indirectamente mas sem subtileza, já nos chamava. E foi na universidade. Ninguém pensava em frequências, que viesse o caralho do exame (falar com ela era impossível, bater-lhe estava fora de questão. Falamos com o tutor do curso e tivemos a lição número um sobre resiliência). A desculpa para a mulher ser assim era a tal falta de peso. Não sei se foi o amor, se foi o sexo. A professora encontrou um namorado e mudou totalmente. Juro! Até disponibilizou um horário flexível de atendimento para tirar dúvidas. Não houve quem não fizesse a cadeira. Pronto, houve quem não fizesse a cadeira e isso foi porque nunca puseram lá os pés.
Eu quero acreditar que o amor foi responsável por esta mudança. O amor é poder e há várias formas possíveis de amar. Se assim não fosse, a minha tia Virgínia - não usei o diminutivo do nome por razões óbvias - seria uma das pessoas mais irascíveis à face da terra. E não o é. Ou basta-lhe o amor que temos por ela ou tem uma vida dupla há anos. Eu quero acreditar na primeira.
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