Tinha dito que sim, mas estava na dúvida se ia ou não ver a peça. Fora do Porto, não muitos quilómetros, mas ainda eram alguns. Não estaria sozinha lá, no entanto teria de fazer a viagem sozinha. Até que me pediram para dar boleia a uma estudante de teatro. Apesar de indicada, fiz a pesquisa ao perfil do Facebook. Tal como ela terá feito. Pareceu-me pacífica. Pronto, fui. Troca de mensagens na rede social, local e horas acertadas, pedido de número de telemóvel para não abordar a pessoa errada.
Atrasou-se um bocadinho, não tinha onde estacionar e esperar por ela. Fui dar a volta, paro no vermelho e olho para esquerda para quem atravessa e abro a janela:
- Olha, chamas-te I.?
- Desculpe?
- Chamas-te I.?
- Sim… és tu?
- Sou, entra.
- Pensei que estavas a pedir alguma informação, não percebi logo. Mas depois reconheci os caracóis da fotografia de perfil. Como é que me reconheceste?
- Andei a ver as tuas fotografias no Facebook, fiz a minha pesquisa antes de decidir. É a primeira vez que dou boleia a alguém que nunca vi pessoalmente. Pareceste-me pacífica. Quando te vi a atravessar, não tinha a certeza absoluta. Mas decidi arriscar, se não fosses tu. Pedia desculpa. Olha, estou a contar contigo para “co-pilota”! Vais-me ajudando com o GPS – o Carlão –, não consigo identificar de imediato a esquerda e a direita. Terás que dizer “para o teu lado” e “para o meu lado”, respectivamente. Preparada?
- Estou preparada! Sim, também andei a ver o teu perfil de Facebook. E pensei “é bonita, não vai haver problema”.
Começou aqui a minha vontade de adoptar a miúda que foi solidificando com o “conduzes tão bem, há quanto tempo tens a carta?”, “a sério? Pensei que tivesses 26 ou 27 anos!”, “que sapatos bonitos!”, “gosto mesmo da tua camisola!”.
Ao fim da noite, levei-a a casa e ainda recebi a mensagem “És muito bonita, obrigada pela boleia e pela companhia!*”. Eu sei que a miúda anda a estudar teatro, mas...
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