domingo, 19 de outubro de 2014

Cada um tem o que merece


Seis à mesa para jantar, já nos conhecemos há algum tempo e, diferenças à parte, gostamos uns dos outros. Mas às vezes os ânimos aquecem na defesa dos argumentos. Palavra puxa palavra e "eu vejo o mundo como um todo, não o vejo dividido em continentes como tu" e  "não estás a perceber, isso demora décadas. Antes disso, serão os ébolas e outras doenças que vão atingir os mais frágeis" e "qual ébola, qual quê?! O mundo está esgotado, não há por onde crescer, nem sequer há espaço para o lixo que fazemos!" Situações difíceis, exigem medidas drásticas e alguém fora da discussão, tal como eu estava, arrisca:

- V., já contaste as tuas piadas sobre o ébola?

Percebi o pedido de ajuda, mas estava ocupada a roer o ossito caramelizado e não pude responder logo ao apelo. E a coisa continuou com "eu não estou a dizer que não aconteçam esses fenómenos das alterações climáticas, mas isso demora tempo" e "mas vai acontecer, já acontecem e pode acontecer outra idade do gelo e em segundos congelamos e desaparecemos do mundo!" Pronto, inspirei e acabei com o assunto porque numa coisa têm os dois razão, mais tarde ou mais cedo ou de uma maneira ou outra, vamos rebentar todos:

- Gostava de ter um congelador desses... olha, achas que ainda tenho tempo para usar os biquínis que comprei este ano? 

Sucesso. A coisa acalmou, mas não por muito tempo. A anfitriã tem tendências vegetarianas e a Maria P., imbuída de espírito humorístico, diz "fizeste uma pausa nas ervinhas?" A resposta à provocação surge rapidamente: "que remédio, vocês são todos uns carnívoros! Tens a noção de quanto é que se gasta para produzir os cereais que as vossas vaquinhas comem? Há um consumo exagerado de carne, não é possível criar vacas só com pasto. A quantidade de cereais que se produzem para esse fim, dava para alimentar milhares de pessoas! Reduzindo o consumo de carne, estamos a poupar recursos!" Pronto, como prefiro dar um "boi para não entrar na briga" e não me importa ser burra, até porque ninguém está à espera que eu seja esperta, entrei em campo:

- Gosto de carne, mas sempre tive muito cuidado com a alimentação. Antes custava-me imenso beber sumo de maçã. Comecei a pôr-lhe um bocadinho de vodka e agora já o bebo sem dificuldade. Vou fazer o mesmo com as papas de aveia.

Graças ao meu suicídio social, a continuidade dos jantares está assegurada. Mereço uma medalha.

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